A visão do Castigo foi mostrada às videntes em duas noites inesquecíveis na história de Garabandal - 19 e 20 de junho de 1962. Loli e Jacinta saíram juntas para os pinheiros. Fizeram sinal aos presentes que se mantivessem a uma certa distância. Desta vez iam sem o acompanhamento de Conchita.
De repente, soaram gritos de pânico, quando o véu do futuro lhes foi levantado e puderam antever cenas de grande punição. Trêmulas, desceram agitando os braços, com a afastar algo de apavorante.
Eis que, naquele mesmo instante, em sua casa, também Conchita entrava em êxtase. Minutos não eram passados, e chegava o comerciante de Santander, Plácido Ruiloba, visivelmente transtornado pela emoção.
Não ouviram os gritos das meninas? - perguntou. Foi espantoso!
A cena se repetiria na noite seguinte, agora com a presença também de Conchita. "Soltavam uns gritos impressionantes - atesta Eloísa Roza. Diziam: 'Espere! Espere! Que se confessem todos! Ai! Ai!'. A gente começou a pedir e a pedir-se perdão publicamente".
O superior de um convento franciscano de Santander, frei Félix Larrazábal, convidado para realizar a festa do corpo de Deus, que naquele ano de 1962 caía em 21 de junho, encontrava-se presente no meio do povo. Ouvindo aqueles gritos medonhos - conta ainda Eloísa - "se pôs a rezar em voz alta, e nós o acompanhamos... Mas bastava parar um instante para que as meninas, da maneira mais angustiante, voltassem a chorar e a gritar... acalmando-se de novo quando prosseguia a oração".
Não podem imaginar
O êxtase terminou pelas 2 da madrugada. "Então elas vieram para onde estava a gente - relata Maria Herrero -, com o rosto inundado de lágrimas. Pediram a todos que se confessassem e comungassem, pois iria acontecer uma coisa horrível... A mãe de Jacinta que, ao ouvir os primeiros gritos, tinha tentado em vão chegar até a filha, estava trêmula. Conta Ter passado tanto medo, que não conseguia mais dormir".
Seis anos mais tarde, o conhecido pedreiro da vila, Pepe Díez, lembraria assim aquelas noites: "Sem querer bancar o valentão, posso dizer que nunca tive medo. Ando de noite por qualquer beco da vila e até pelos caminhos mais afastados. Nunca experimentei qualquer sobressalto. Porém naquelas noites dos gritos, reunidos ali no escuro, ouvindo à distância o choro e os lamentos das meninas, senti me tremerem as pernas de tal maneira que os joelhos batiam um contra o outro, sem poder me controlar. Não podem imaginar o que foi aquilo. Nunca vi coisa igual".
Apesar do adiantado da hora, ninguém se mexeu. "Continuamos rezando o terço com o padre até as 6 da manhã, quando ele se dirigiu à igreja, seguido por todo o povo. Começou então o desfile das confissões... com uma sinceridade e um arrependimento verdadeiramente extraordinários" - conclui Eloíza Roza.
Nem podia ser de outra maneira, depois daquela preparação comunitária e personalíssima. Ao ouvir os gritos das meninas, todos puderam sentir experimentalmente aquilo que, em geral se conhece apenas por palavras: o "Santo temor de Deus", que é um Dom do Espírito Santo, e que a Bíblia coloca como o "começo da sabedoria" (Sl 110,10).
Sobre essa noite existe uma curta mensagem, assinada por Loli e jacinta. Apesar da linguagem infantil, ela entremostra o que experimentaram: "A Virgem disse que nós não esperamos o Castigo, mas ele virá sem o esperarmos. Porque o mundo não mudou; e com esta vez ela já o disse duas vezes. E que nós não lhe prestamos atenção, porque o mundo está pior. Tem que mudar muito, e ainda não mudou nada. Preparem-se e confessem-se, que o Castigo virá em breve e o mundo continua na mesma. Que pena que não muda! Em breve virá o castigo, muito grande, se não mudar".
Assombrosa coincidência
Uma descrição mais elucidativa encontramos nesse texto de Loli, entregue ao padre mexicano Gustavo Morelos, fundador do Legião Branca de Nossa Senhora do Carmo: "Embora continuássemos vendo a Virgem, começamos a ver também uma grande multidão, que sofria muito e gritava com a maior angústia... Depois ela nos fez ver como chegará, para toda a humanidade, o grande Castigo, e que esse virá diretamente de Deus... Num determinado momento, nenhum motor ou máquina funcionará. Uma terrível onda de calor se abaterá sobre a terra, e os homens começarão a sentir uma grandíssima sede; buscarão desesperadamente água, mas essa, devido ao grade calor, se evaporará. Então quase todos cairão no desespero e tentarão matar-se uns aos outros; mas a força lhes faltará e cairão por terra. Será o momento para compreenderem que é Deus precisamente quem está permitindo isto.
Por fim, vimos uma multidão de pessoas envoltas em chamas. Corriam a jogar-se nos mares e nos lagos; porém, ao entrarem na água, essa parecia ferver e, em vez de apagar as chamas, era como se as ativasse ainda mais. Era tão terrível que pedi à Virgem para levar consigo as nossas crianças, antes de isto acontecer. Mas ela nos disse que então já serão grandes".
A descrição de Conchita igualmente faz referência ao fogo: "Vi o Castigo e posso garantir-lhes que, se ele acontecer, será pior do que se estivéssemos envoltos pelo fogo; pior do que se tivéssemos brasas debaixo dos pés e em cima da cabeça".
Tempos depois, falando a um grupo de norte-americanos que chegava em peregrinação a Garabandal, Conchita voltava ao assunto assim: "A Virgem fará o Milagre para evitarmos o Castigo, embora o Castigo não possa ser evitado, porque perdemos até o senso do pecado. Agora chegamos a um tal extremo, que Deus terá de nos castigar.
Por uma assombrosa coincidência - observa ainda Pérez - as palavras de Conchita, a inculta adolescente das montanhas, conferem com aquelas outras de dois brilhantes espíritos da nossa época: o papa João Paulo II e o escritor e filósofo Maurice Clavel, recém-convertido.
"O homem contemporâneo - constata o primeiro - descobre a ameaça de uma impassibilidade espiritual e ainda da destruição da consciência. Esta morte é algo mais profundo que o pecado: é a morte do senso do pecado".
Da mesma forma, Clavel: "É a primeira vez que, na história e na política do nosso mundo, o pecado não mais representa uma imperfeição que é preciso corrigir ou limitar em suas conseqüências; antes, pelo contrário, chegou a ser a mola, o motor, o princípio ativo, a alma mesmo da sociedade humana".
"O homem de hoje - observa ainda o Papa - se encontra diante de tentações e ameaças do mal tão grandes como, indubitavelmente, nunca experimentou até hoje".
Palavras sobre as quais Pérez tece estas considerações: É o mal que se empoleira na cúpula do seu triunfo quando chega a conseguir que o homem, negando-se a si mesmo de maneira individual ou coletiva, se auto destrua física, intelectual, espiritual ou moralmente, em nome da sua independência, da sua libertação ou da sua desesperança.
Extraido do livro: Garandal os Tempos Finais, de Olivo Cesca
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