Para o cientista das religiões Frank Usarski*, deve-se evitar a “ideia ingênua” de que todas as religiões compartilham uma essência comum. Por isso, é preciso reconhecer as diferenças e os pontos inconciliáveis entre elas
Em uma entrevista, concedida à IHU On-Line, Usarki afirma que o Budismo, em termos de diálogo inter-religioso, “demonstra uma tendência de evitar brigas sobre formulações dogmáticas ’secundárias’. Ao mesmo tempo, olha geralmente com simpatia para qualquer método – de origem budista ou não – que supostamente contribuiu para a evolução espiritual na direção do nirvana”. Porém, afirma, “nenhuma religião nasce e se desenvolve em um vácuo, e poucos dos seus representantes são santos, mas sim sujeitos a tentações ‘mundanas’. Há momentos na história que demonstram que o Budismo também é vulnerável nesse sentido”.
O budismo evita formulações dogmáticas secundárias porque não quer desagradar aos homens, baseado no dogma do não reconhecimento de seus pecados. É preferível desagradar a Deus que aos homens. E ver qualquer método inventado pelo homem como bom para a suposta evolução espiritual.
"Pedro e os apóstolos replicaram: Importa obedecer antes a Deus do que aos homens." (At 5,29)
Esses apóstolos faziam milagres e sinais de Deus, eram ignorantes em conhecimento religioso por serem antigos e de pouca instrução? E o que fazem os sabios de nosso tempo senão teorias impraticáveis.
Os ecumenistas hoje falam que as religiões todas são boas tendo pontos em comum, tentam conciliar o que não conseguem explicar para dizer que a verdade foi alcançada e não precisamos evangelizar ninguém ou ensinar sobre a Bíblia.
Um trecho da entrevista:
“IHU On-Line – O senhor afirma que há “um preconceito fortemente enraizado no senso comum [de] que ‘bem lá no fundo’, no âmago, todas as religiões partem dos mesmos princípios, têm objetivos semelhantes e se unem no desejo de harmonia e de paz no mundo”. Nesse sentido, é possível uma ética mundial?
Frank Usarski – Como cientista da religião interessado na comparação das religiões, tenho problemas com a ideia ingênua de que todas as religiões querem a mesma coisa e compartilham uma essência comum. Ao mesmo tempo, concordo com a busca para uma ética mundial. Mas esta só pode der construída a partir do reconhecimento das particularidades, da integridade e da dignidade de cada um dos interlocutores envolvidos.”
*Frank Usarski é professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. É pós-doutor em Ciências da Religião pela Universidade de Hannover, na Alemanha. É fundador e coordenador da Revista de Estudos da Religião – Rever – e também é líder do grupo de pesquisa Centro de Estudos de Religiões Alternativas de Origem Oriental no Brasil – Ceral. De suas obras, além de O Budismo e as outras, citamos Constituintes da Ciência da Religião. Cinco ensaios em prol de uma disciplina autônoma (Paulinas, 2006).
Lembrando que o Budismo acredita na reencarnação, negam a divindade de Jesus, visto apenas como um “mestre”, são politeístas, dentre outros pontos que nos definem e delimitam fronteiras claras entre o Cristianismo e o Budismo.
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