Jesus: “Quando criei o homem, apaixonei-me pela
beleza de minha criatura, pois ela foi feita à minha ima-
gem e semelhança.”
“Não podíamos pedir a Deus que nos criasse, mas
Deus, impelido por um fogo de amor, criou-nos à sua pró-
pria imagem, numa dignidade que a língua é incapaz de
dizer; o olho incapaz de ver; nosso espírito incapaz de
compreender. Eis a nossa dívida para com Deus, dívida
que reclama pagamento; reclama amor. A alma não pode
viver sem o amor, porque foi feita de amor. Criei-a por
amor, diz o Senhor Deus”.
“Ó abismo, ó Divindade eterna, ó oceano sem fundo,
que mais poderias dar além de ti? Tu és o fogo que quei-
ma e jamais se extingue. Tu és o fogo que desfaz toda
frieza. Fogo que derrete o gelo. Fogo, cujo clarão me fez
conhecer a verdade”.
“Se é verdade que Cristo, o Filho de Deus, morreu
na cruz, mister se faz que todo coração se transforme num
Gólgota, e que os olhos não se deslumbrem mais
com outras flores que não as cinco rosas* vermelhas de-
sabrochadas no jardim do Corpo de Cristo. Nenhum outro
amor é permitido, a não ser o amor deste esposo de san-
gue. Que sua mão esquerda ensangüentada me abrace
com força… Impossível resistir-lhe”.
Num êxtase, após a comunhão, exclama: “Ó Trinda-
de eterna, pequei todos os dias de minha vida. Ó alma
miserável. Nunca te lembraste de teu Deus? Certamente,
não. Se o tivesses feito, tu te terias consumido na fornalha
do seu amor”.
“Em tua natureza, ó Deus eterno, eu reconheço mi-
nha própria natureza. Minha natureza é o fogo.”
Jesus, sorrindo, corrige: “Eu sou o fogo e vós as centelhas”.
*as cinco chagas