Vamos escolher um texto que pode refletir a dúvida de muitos com ou sem religião. O ateu Nietzsche fez alguns questionamentos que não sabemos se ele buscou depois as repostas:
“Um Deus onisciente e onipotente que não se empenha em que as suas intenções sejam compreendidas pelas suas criaturas – poderá por acaso ser um Deus de bondade? Um Deus que, durante milhares de anos, tem permitido que continuem à solta inumeráveis dúvidas e escrúpulos, como se não tivessem importância para salvação da humanidade, e que, no entanto, anuncia as mais terríveis consequências para todo aquele que interpreta mal a sua verdade.” (Nietzsche em Aurora, Publicações Europa-América, 1978, afor. 91.)
Vamos à crítica: “que não se empenha em que as suas intenções sejam compreendidas” Essa questão é apenas repetição da infantil questão: se Deus é poderoso e bondoso por que ele não se revela a nós de forma mais clara? Isso é apenas reflexo de uma sociedade que perdeu o total relacionamento com Deus. Mas já teve uma revelação clara no Éden. Indo logo para o presente, Deus se manifesta na realidade do dia a dia, acontecimentos que incrédulos se tentam a chamar de coincidência. No dia a dia sem imagens e luz, porque com um sinal muito visível é ainda fácil buscar a descrença depois em outros motivos. Deus precisa da fé, esperança e abertura de coração ao próximo, talvez mais, da pessoa; e assim amadureça o ser humano de forma real e se complete como homem à imagem de Deus. Mas há muito mais do que isso por meio dos sacramentos e da vida de testemunho de Santos e religiosos.
Esse “tem permitido” mostra que Nietzsche é agora o primeiro a ir contra o livre arbítrio, queria que Jesus aparecesse a ele e sem sua permissão “forçasse” ele a acreditar na revelação cristã. Provavelmente depois iria reclamar que estava sendo doutrinado e que não ajuda a quem mais precisa.
“tem permitido que continuem a solta inumeráveis dúvidas e escrúpulos” Então a culpa do mal (escrúpulos) é Deus? E a culpa de discussões (dúvidas ou interpretação) criada pelo homem é de Deus? Se lamenta de o homem não ter atingido a verdade na teologia, se nem na filosofia chegaram perto.
“como se não tivessem importância para salvação da humanidade” O especulador filósofo não tem conhecimento sobre o que critica. Quem não teve acesso à revelação da Igreja é guiado pela moral natural e por ela será julgado e assim poderá ser salvo. Pela razão ou observação racional todo ser humano busca fazer o bem e evitar o mal, essa é a lei moral natural inserida por Deus em cada homem. Quem conhece a revelação da Igreja terá maior responsabilidade de buscar fazer o bem, porque teve conhecimento que os outros não tiveram.“anuncia as mais terríveis consequências para todo aquele que interpreta mal a sua verdade.” Nietzsche veio da severidade luterana, uma religião que não fazia mediação de fé e razão, com o fundamentalismo do “somente a fé” ou “somente a bíblia”, mal conhecendo a misericórdia divina. Interpretar mal a verdade não tem terrível consequência, porque a pessoa é responsável pelo seu mal que escolhe fazer usando qualquer instrumento, até a bíblia. Termino com a citação de Mateus 13 em que Isaías já profetizava a dureza de coração: “Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure“